sábado, 13 de agosto de 2016

Análise: O menino e o Rio


O menino e o Rio


O corpo do rio prateia
quando a lua se abre

Passarinhos do mato gostam
de mim e de goiaba

Uma rã me benzeu
com as mãos na água

Com os fios de orvalho
aranhas tecem a madrugada

Era o menino e os bichinhos
Era o menino e o sol
O menino e o rio
Era o menino e as árvores

Cresci brincando no chão
entre formigas

Meu quintal é maior
do que o mundo

Por dentro da nossa casa
passava um rio inventado

Tudo que não invento
é falso

Era o menino e os bichinhos
Era o menino e o sol
O menino e o rio
Era o menino e as árvores

(em Poesia Completa, 2010)






“Tudo que não invento é falso”. Com esse paradoxo, Manoel de Barros inicia este livro que são fragmentos de lembranças livres em um tempo aparentemente invisível. Cada trecho é diagramado em páginas soltas e podem ser lidos em qualquer ordem, sem nenhum tipo de linearidade. Afinal, a imaginação do autor não possui regras determinadas.

Conforme se passeia pelas páginas, percebe-se o tom poético de Manoel. O autor se preocupa com cada palavra, esculpindo um texto que tem como preocupação primordial a busca pela beleza.

Mais que prosa, poesia, música ou qualquer outro rótulo que se possa aplicar ao trabalho de Manoel de Barros, está neste livro a linguagem perfeita, mesmo que não tenha sido esta sua intenção. No livro: “quisera uma linguagem que obedecesse a desordem das falas infantis do que as ordens gramaticais [...] desfazer o normal há de ser uma normal”.














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