domingo, 14 de agosto de 2016

Análise: Infantil




Infantil

O menino ia no mato
E a onça comeu ele.
Depois o caminhão passou por dentro do corpo do menino
E ele foi contar para a mãe.
A mãe disse: Mas se a onça comeu você, como é que
o caminhão passou por dentro do seu corpo?
É que o caminhão só passou renteando meu corpo
E eu desviei depressa.
Olha, mãe, eu só queria inventar uma poesia.
E não preciso fazer razão.


(Em Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo, 2001)





   Manoel explora a poeticidade das imagens inventadas em contraponto com um questionamento sobre a coerência, sobre explicações objetivas para a compreensão do poema. Porém, ao invés de negar qualquer explicação, o poema se resolve ao assumir que por ser poema tem licença para alargar os limites da coerência. Mais uma vez, esta coerência poética se aproxima da coerência infantil, da narração e da invenção. 
   O poema traz um elemento de surpresa ao se misturar com a narração do menino que faz o poema dentro do poema. Além de repetir a figura de metalinguagem, é como se fosse criado um segundo poema depois que se descobre quem o escreve - o menino que quer inventar uma poesia, não o poeta, aquele, ilustre. 
   Esta surpresa gera um sentido humorístico, não pela ironia ou sarcasmo mas pela ingenuidade que se apresenta na voz infantil do personagem, projeção do poeta no sujeito poético, este menino-poeta. 







Um comentário:

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